segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A viagem de ônibus


Ontem, dia 25 de dezembro, Natal. Voltei de bauru a Campinas de ônibus. O que significa dizer cerca de 6 horas de viagem exposta aos mais diversos ruídos insuportáveis, como pessoas mexendo em sacos plásticos (odeio esse barulho), crianças chorando, um chato escutando música no celular sem fone de ouvido, e por aí vai.

Nos primeiros quilômetros dormi, até que deu para tirar um cochilo legal considerando o carro em movimento, calor de rachar o coco, o que por si só já é um sonífero. O problema foi quando acordei.

Leitura era inviável, quando acordei já estava de noite, resultado: cabeça vazia oficina do diabo. Passar horas a fio num “busão” contemplando a paisagem é o tipo de situação que bota um cabra para pensar.

Então pensei, em besteira, é claro.

Me veio na cabeça uma crônica escrita por um amigo que dizia, em síntese, que as pessoas são extremamente diferentes na internet da vida real. Conclusão que discordo, pois acho podemos identificar o autor de uma mensagem, ainda que anônima, apenas pela linguagem utilizada na escrita.

E então comecei a pensar na pessoas. Algumas são extremamente críticas ao vivo, mas polidas quando se manifestam por escrito. É razoável esse comportamento porque o crítico não o é apenas com os outros, mas consigo também.

Existem os engraçadinhos que só conseguem se comunicar através de gracejos, estes são exatamente iguais na vida real, todos nós conhecemos pessoas assim, incapazes de se mostrar de verdade.

Mas o pior são os malas. Gênero do qual se multiplicam as espécies: tem o mala ecochato, engajado em mudar o mundo atrás do seu MAC confortavelmente instalado em sua sala com ar condicionado; o mala metido a intelectual, que odeia cultura de massa e assiste novela escondido; o mala preocupado com sua privacidade enquanto, paradoxalmente, posta todos os seus passos no facebook; o politicamente correto, que não bebe, não fuma e não fode. Aliás, se utilizado este último termo no sentido literal, pois no sentido metafórico é o que mais faz.

Mas o pior de todos os malas são os falsos religiosos, que pregam uma doutrina que não seguem na prática. Falam da solidariedade e tolerância que não aplicam na própria família. Destes tenho até um pouco de pena, se misturam aos verdadeiros para tentar parecer o que não são.

Valha-me! Se tenho meus defeitos, certamente os tenho, afaste-me dessa arrogância para que eu possa tomar uma dose de whisky numa terça-feira a noite sem sentir culpa. Compenso meus vícios e defeitos me abstendo de prejudicar o próximo por capricho ou por insegurança, por pior que para mim essa pessoa pareça, praticando a compaixão, acima de tudo, ou tentando, pelo menos.

Quando meus pensamentos enveredaram por caminhos tortuosos e profundos tratei logo de me ocupar com alguma coisa inútil. Foi então que lembrei do Sudoku no celular.

Joguei por três horas seguidas ao som de New Order (de novo, eu sei). Confesso que consegui terminar com êxito apenas quatro rodadas das muitas tentativas.

Enfim, Campinas. O ônibus chegou adiantado, eu estava num dia de sorte.

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