Ontem,
dia 25 de dezembro, Natal. Voltei de bauru a Campinas de ônibus. O
que significa dizer cerca de 6 horas de viagem exposta aos mais
diversos ruídos insuportáveis, como pessoas mexendo em sacos
plásticos (odeio esse barulho), crianças chorando, um chato
escutando música no celular sem fone de ouvido, e por aí vai.
Nos
primeiros quilômetros dormi, até que deu para tirar um cochilo
legal considerando o carro em movimento, calor de rachar o coco, o
que por si só já é um sonífero. O problema foi quando acordei.
Leitura
era inviável, quando acordei já estava de noite, resultado: cabeça
vazia oficina do diabo. Passar horas a fio num “busão”
contemplando a paisagem é o tipo de situação que bota um cabra
para pensar.
Então
pensei, em besteira, é claro.
Me
veio na cabeça uma crônica escrita por um amigo que dizia, em
síntese, que as pessoas são extremamente diferentes na internet da
vida real. Conclusão que discordo, pois acho podemos identificar o
autor de uma mensagem, ainda que anônima, apenas pela linguagem
utilizada na escrita.
E
então comecei a pensar na pessoas. Algumas são extremamente
críticas ao vivo, mas polidas quando se manifestam por escrito. É
razoável esse comportamento porque o crítico não o é apenas com
os outros, mas consigo também.
Existem
os engraçadinhos que só conseguem se comunicar através de
gracejos, estes são exatamente iguais na vida real, todos nós
conhecemos pessoas assim, incapazes de se mostrar de verdade.
Mas
o pior são os malas. Gênero do qual se multiplicam as espécies:
tem o mala ecochato, engajado em mudar o mundo atrás do seu MAC
confortavelmente instalado em sua sala com ar condicionado; o mala
metido a intelectual, que odeia cultura de massa e assiste novela
escondido; o mala preocupado com sua privacidade enquanto,
paradoxalmente, posta todos os seus passos no facebook; o
politicamente correto, que não bebe, não fuma e não fode. Aliás,
se utilizado este último termo no sentido literal, pois no sentido
metafórico é o que mais faz.
Mas
o pior de todos os malas são os falsos religiosos, que pregam uma
doutrina que não seguem na prática. Falam da solidariedade e
tolerância que não aplicam na própria família. Destes tenho até
um pouco de pena, se misturam aos verdadeiros para tentar parecer o
que não são.
Valha-me!
Se tenho meus defeitos, certamente os tenho, afaste-me dessa
arrogância para que eu possa tomar uma dose de whisky numa
terça-feira a noite sem sentir culpa. Compenso meus vícios e
defeitos me abstendo de prejudicar o próximo por capricho ou por
insegurança, por pior que para mim essa pessoa pareça, praticando a
compaixão, acima de tudo, ou tentando, pelo menos.
Quando
meus pensamentos enveredaram por caminhos tortuosos e profundos
tratei logo de me ocupar com alguma coisa inútil. Foi então que
lembrei do Sudoku no celular.
Joguei
por três horas seguidas ao som de New Order (de novo, eu sei).
Confesso que consegui terminar com êxito apenas quatro rodadas das
muitas tentativas.
Enfim,
Campinas. O ônibus chegou adiantado, eu estava num dia de sorte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário