terça-feira, 25 de outubro de 2011

Contra o Tempo


  
Numa certa idade a proximidade com a data do seu aniversário te remete a uma reflexão. Não digo a reflexão de uma vida, esta, acredito eu, só ocorre nos minutos que antecedem a morte.

O famoso filme que passa pela cabeça, perto do aniversário de quem já passou dos trinta, retrata o período imprescrito, ou um pouco mais, quem sabe.

Para mim tudo chega um pouco mais tarde. Acho que minha visão masculina do mundo se concretiza na demora em amadurecer.

Quando assisti Asas do Desejo não percebi de plano que o filme não sairia da minha cabeça. Percebi alguns sinais disso quando comecei a procurar aulas de trapézio.

Chegou a hora. Estou morrendo de medo.

Vou arriscar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Apenas Falta de Educação



Hoje escutei de relance alguém dizendo, com orgulho, a seguinte frase: “Eu xingo advogado!”.

Extrema falta de educação, foi somente o que disse a ela.

No caminho de casa, para variar, fiquei matutanto o porquê de uma pessoa se sentir a vontade para xingar outra apenas pela sua profissão. Porque? Ainda mais pelo fato de eu estar diretamente envolvida na questão.

Imaginei pessoas me xingando do nada na rua, simplesmente por eu ter me formado em direito, ter feito minha inscrição da OAB e, hoje, sair por aí advogando.

Pânico.

Eu deveria, a partir de então, esconder minha profissão nas rodas sociais, mentir para os desconhecidos. Poderia dizer que era engenheira, professora, psicóloga, jornalista, acho que seria facilmente confundida com uma bancária. Mas e se fosse descoberta? Se alguém do trabalho me reconhecesse e denunciasse meu verdadeiro ofício?

Desisti.

Mesmo pensando na possível existência de grupos de extermínio contra advogados, resolvi que iria me assumir de peito aberto, mesmo com a possibilidade de ser maltratada na padaria.

Pus-me a pensar, novamente.

A princípio na colega sergipana que trabalha no Tribunal como serventuária da justiça, presta concurso para a magistratura, pratica Pilates e gosta de xingar advogados.

Ela disse que se sente a vontade para isso, mas será que se sente mesmo, ou falou acreditando na inexistência de causídicos no recinto?

Cheguei em casa sã e salva. Curiosamente, ninguém me disse palavras ofensivas no caminho.

PS: Penso em mudar o nome do blog para Má Contra o Mundo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um Espírito Superior

Estava eu na aula de Pilates, quando chega uma aluna diferente. Uma mulher com aquele tipinho Hippie da Oscar Freire e ar de sabichona.

Dentre conversas sobre alimentos orgânicos, horror à cultura de massa e coisa que o valha, nossa instrutora, ingenuamente, confessa que não sabe até hoje usar direito um computador, que não gosta da internet, que não participa das redes sociais,  etc.

Minha colega, com o rosto iluminado e olhos vibrantes, concluiu: “Eu sabia que você era uma pessoa de luz, um espírito superior na Terra”.

Ficamos estáticas, seria aquela mulher que praticava Pilates conosco uma líder espiritual em alguma seita alternativa? 

Eu queria muito saber como identificar uma pessoa espiritualmente superior, quem sabe para usar este poder para selecionar amizades ou em qualquer oportunidade em que eu pudesse classificar as pessoas e agir de forma preconceituosa com os classificados inferiores.

Espíritos superiores de um lado, inferiores do outro, simplificando a vida da galera que não tem esse poder.

Meus Deus, e eu? Em qual lado eu ficaria? Se ficasse no lado dos espíritos inferiores eu certamente questionaria o critério utilizado para a diferenciação. Se eu ficasse do lado dos espíritos superiores talvez não.

Geralmente quando estou em frente a pessoas que se dizem místicas, porque nem sempre são, fico em pânico com a possibilidade desta pessoa ler meus pensamentos.

Então fiquei em pânico, claro. Mass considerando que ela provavelmente lia meus pensamentos, resolvi esclarecer de uma vez por todas e perguntar o porquê. Porque, ali na aula de Pilates, nossa professora foi qualificada como um espírito superior? Enfim, qual o critério?

Então, veio a resposta. E acabando com a minha ilusão de estar junto a uma pessoa com tamanha percepção, disse, a mulher misteriosa, “Ah, porque a Tha não gosta do facebook”.

Simples assim, ela detonou minhas ilusões de conseguir o poder de diferenciar pessoas entre boas e más. Voltei ao status quo.

Na verdade, segurei fundo meu riso, queria gargalhar, rolar de rir, mas me contive. Imagine, se o nível espiritual de alguém fosse determinado pelo seu grau de intimidade com a tecnologia, Steve Jobs com certeza estaria com problemas.

Naquele dia, comprovei como existe pessoa louca no mundo, que sai por aí falando um monte de asneira, distorcendo valores segundo as suas próprias preferências.

Uma amiga postou no “Face” dias atrás “O mundo está ao contrário e ninguém reparou”, clássica do Legião Urbana. Instantaneamente pensei, “eu reparei”.

Adoro minha instrutora de Pilates, talvez ela seja mesmo um espírito superior, mas com certeza por outros motivos.

sábado, 8 de outubro de 2011

Maria Antonieta

Super recomendo.




  

A acupuntura



A acupuntura

Meu médico psicopata, digo, homeopata me receitou acupuntura.

Na sala 2, arranquei meias e sapatos, deitei na maca e aguardei. Uns minutos depois chegou o médico e corrigiu Sandra (a assistente parecida com a madona) imediatamente – “na próxima vez acomode-a na sala1” – e me enfiou  inúmeras agulhas, na cabeça, rosto, mãos e pés. Não senti uma agulhada sequer. Apenas a música suave e um soninho gostoso. A próxima é na sexta-feira.

Sexta-feira lá estava eu esperando para adentrar na Sala 1 e pra lá fui. Tirei minhas meias e sapatos, deitei na maca esperando pelas agulhas mágicas, quando fui alertada “Se doer muito você me chama que eu estou do lado da janela”.

E de novo a pergunta: Como assim?

Analisei os dados: Sala 1 + choques elétricos + intensidade + olhar piedoso = eu estava perdida, quem sabe num sanatório estilo “Bicho de Sete Cabeças”. Um pânico tomou conta de mim, queria sair correndo, mas tive vergonha. Melhor ter o cérebro fritado que demonstrar covardia!

De repente, o doctor com sua postura inabalável e sua touquinha cirúrgica (até hoje não sei porque, mas deve ter um motivo), mandou que eu colocasse uma faixa de elástico em volta da minha cabeça,  cobrindo as orelhas.

Eu estava deitada numa maca, descalça (com muito frio nos pés), o que eu poderia fazer senão obedecer?

Quando eu estava totalmente imobilizada fui questionada, “está sentindo um choquinho?”. Eu disse que não, porque não estava. Então, o sádico pingou algumas gotas de álcool na minha testa e recebi descarga elétrica total, eu quase pulei da maca. Enquanto eu gritava e me contorcia como uma cobra ele dizia: “jaja estabiliza”.

NÃO ! Não estabiliza ! E então, acho que por piedade, ele diminuiu a intensidade. Apagou a luz e foi embora.

Incrível, foram os 40 minutos mais relaxantes deste ano. Os choques, na verdade, eram ondas sonoras que entravam no meu cérebro parece que por osmose e eu escutava, bem baixinho, uma música oriental que me enchia de paz e de sono. Como se mais nada no mundo existisse, senão eu, meu corpo e uma soneira gostosa. Tudo inundado por uma sensação de sossego absoluto.

Ai que delícia !

PS: Depois de alguns dias descobri que não preciso tirar as meias.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ouçamos com atenção os 'deles' e os 'delas' da TV Globo

Eu sou uma telespectadora assumida. Gosto de televisäo e gosto muito. Como näo poderia falhar, assisto novela de vez em quando.
Num desses dias em que faltei a um dos meus compromissos para ficar de boa em casa, eis que me chama a atençäo a dita novela. Uma daquelas cenas quentíssimas em que os personagens vomitam  discursos moralistas, quase sempre relacionando o dinheiro com a felicidade.
A relaçäo exaustivamente debatida na telinha segue sempre o mesmo sentido, para nos levar também a mesma conclusäo, que o dinheiro näo traz felicidade. Apesar deu discordar dessa máxima novelística, näo é esse o ponto mais irritante.
Irritante mesmo é a associaçäo do dinheiro à infelicidade ou até mesmo  à falta de caráter.
A cena nos mostra uma personagem de nome Dulce, mulher miserável e sofrida, cuja demosntração de dignidade e nobreza se concretiza em sua recusa ao convite do filho, novo rico, para que largue sua casa caindo aos pedaços para morar num Hotel de luxo, com todas as mordomias que a riqueza pode oferecer. Coitada.
Minha mäe adora Dulce e suas boas intençöes. Talvez ela näo tenha se lembrado que o autor do sermäo moralista escreveu o roteiro numa cobertura duplex de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas.
De qualquer forma nos rendeu alguns minutos de conversa fiada.