Dia
de consulta. Passei o mês esperando ansiosamente este dia, porque,
finalmente, começaria a missão mais difícil da minha vida até
agora: parar de fumar.
Munida
de chapas e exames em punho, fui em frente, e com atraso de uma hora
e meia, lá estava eu diante da Dra. Junia para marcar o dia D.
Como
era de se esperar, enquanto a médica repassava os passos do
tratamento, alguns possíveis efeitos colaterais do remédio e a
possibilidade da recaída, adivinhem: comecei a chorar como um bebê,
como um bebê fumante sem cigarro, para deleite da médica, que achou
graça no meu desespero.
A
verdade é que nem eu ligo mais para o meu choro, porque
inconscientemente coloco uma forte carga emotiva em tudo o que faço.
Pois
bem, ainda meio chorosa, no taxi a caminho de casa, percebi o porquê
do choro: estou prestes a fazer a transição final e fatal, com data
marcada para o dia 15/05/2012.
Desde
que me conheço por gente adulta, o cigarro foi fator determinante,
inclusive, para formação das minhas relações fora do ambiente
rígido do trabalho.
Muitos
amigos foram feitos nas rodinhas dos que se juntavam no cantinho para
fumar um cigarro escondido, enquanto adolescente, ou para não
incomodar a maioria não fumante, depois de adulta.
Com
esses, mantive amizades mais longas, talvez por sermos todos falíveis
e tolerantes com as falhas alheias, ou por participarmos de uma
minoria, hoje marginalizada.
Essa
parte de mim vai morrer? Finalmente serei a pessoa séria que
aparento?
Justamente
no salão de espera da clínica, li numa revista velha uma frase do
Nando Reis: “A vida ordinária cansa, as vezes preciso fugir para
Saturno”.
Apesar
de ridicularizado pelo jornalista, Nando tem razão, a vida
ordinária, com nossos compromissos e obrigação de ser, ou pelo
menos, parecer ser integrante de uma sociedade que odeia vício, que
venera a beleza, o sucesso, o cheiro de perfume importado, cansa.
E
na contramão das aparências eu vinha, fumando.
O
fato me dizerem que não pareço uma pessoa fumante como uma espécie
de elogio, indica que mantenho bem essa aparência.
Está
na hora de deixar de ser apenas uma aparência. Se escolhi viver num
mundo ordinário, tenho que me entregar de corpo e alma a essa ordem.
Como dizia o Cumapdii Washington....Ordinário!!
ResponderExcluirSuper sensível seu comentário...
ResponderExcluirAmorzinho. tamô junto nesta!
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