quinta-feira, 3 de maio de 2012

Parando de Fumar. Parte 1


Dia de consulta. Passei o mês esperando ansiosamente este dia, porque, finalmente, começaria a missão mais difícil da minha vida até agora: parar de fumar.

Munida de chapas e exames em punho, fui em frente, e com atraso de uma hora e meia, lá estava eu diante da Dra. Junia para marcar o dia D. 

Como era de se esperar, enquanto a médica repassava os passos do tratamento, alguns possíveis efeitos colaterais do remédio e a possibilidade da recaída, adivinhem: comecei a chorar como um bebê, como um bebê fumante sem cigarro, para deleite da médica, que achou graça no meu desespero.

A verdade é que nem eu ligo mais para o meu choro, porque inconscientemente coloco uma forte carga emotiva em tudo o que faço.

Pois bem, ainda meio chorosa, no taxi a caminho de casa, percebi o porquê do choro: estou prestes a fazer a transição final e fatal, com data marcada para o dia 15/05/2012.

Desde que me conheço por gente adulta, o cigarro foi fator determinante, inclusive, para formação das minhas relações fora do ambiente rígido do trabalho.

Muitos amigos foram feitos nas rodinhas dos que se juntavam no cantinho para fumar um cigarro escondido, enquanto adolescente, ou para não incomodar a maioria não fumante, depois de adulta.

Com esses, mantive amizades mais longas, talvez por sermos todos falíveis e tolerantes com as falhas alheias, ou por participarmos de uma minoria, hoje marginalizada.

Essa parte de mim vai morrer? Finalmente serei a pessoa séria que aparento?

Justamente no salão de espera da clínica, li numa revista velha uma frase do Nando Reis: “A vida ordinária cansa, as vezes preciso fugir para Saturno”.

Apesar de ridicularizado pelo jornalista, Nando tem razão, a vida ordinária, com nossos compromissos e obrigação de ser, ou pelo menos, parecer ser integrante de uma sociedade que odeia vício, que venera a beleza, o sucesso, o cheiro de perfume importado, cansa.

E na contramão das aparências eu vinha, fumando.

O fato me dizerem que não pareço uma pessoa fumante como uma espécie de elogio, indica que mantenho bem essa aparência. 

Está na hora de deixar de ser apenas uma aparência. Se escolhi viver num mundo ordinário, tenho que me entregar de corpo e alma a essa ordem.

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