domingo, 27 de maio de 2012

Parando de Fumar. Parte 2 - Negação


Hoje, dia 27/05/2012, faz 12 dias que parei de fumar. É estranho porque ainda não me acostumei ao novo rótulo de não-fumante. Ainda defendo com unhas e dentes nervosos o direito das pessoas fumarem na rua.

Porque não é incomum populares se sentirem confortáveis em desacatar um fumante na calçada. Parece uma histeria coletiva, um consenso esquisito de que as regras da boa educação podem ter sua aplicação excepcionada diante de uma pessoa, conhecida ou não, portando um cigarro na mão.

Não foram poucas as vezes em que fui interpelada na rua por desconhecidos que se sentiam no direito de se dirigir a mim com uma boa dose de má-educação, como se eu fosse obrigada a escutar um discurso vazio de quem não tem o que fazer.

Mas enfim, deixar de fumar tem me deixado mais irritada e irritante do de costume, porém tenho uma desculpa nobre, e por isso meu mal comportamento tem sido aturado com parcimônia pelos que convivem comigo.

Tenho muita vontade de comer chocolate, engordei. Há uns três dias bati meu pé no pé da cama, foi com tanta força que o dedo ainda esta roxo e não posso ir à academia.

Eu até esqueci o motivo que me fez tomar essa decisão, mas sei o que me faz continuar: a vergonha de dar o braço a torcer.

Acho que é por isso que contei para Deus e todo mundo o meu intento, sabia que sentiria muita vergonha de falhar nesse teste de autocontrole.

É porque sei que o todos esperam de uma pessoa descontrolada: descontrole.

sábado, 5 de maio de 2012

Uma (1) missão cumprida.


Eu tenho certo medo de ler meus posts.  Numa contabilidade superficial, a maioria das promessas feitas aqui foi descumprida.

Meu primeiro post, tímido, referiu-se a imposição de meta para perder alguns quilinhos. Hoje, tenho exatamente o mesmo peso e ainda doei minha calça jeans parâmetro para minha irmã. Missão não cumprida.

Outra promessa foi a de ler “O Retrato de Dorian Gray”, também quebrada, mas por força maior (ou caso fortuito, quem sabe?). O livro simplesmente desapareceu da face da Terra. Não que eu tenha procurado muito por ele, mas o fato é que eu até mudei de apartamento e o livro continua em local incerto ou não sabido. Missão literalmente abandonada.

Depois foi a vez das aulas de trapézio. Num devaneio decidi que iria fazer aulas de trapézio, que nem comecei. Mas tenho outra desculpa para isso, o único lugar onde se pratica em Campinas é longe de onde moro. Missão abortada por preguiça.

E minhas consultas médicas (adoro?). O tratamento homeopata não passou de 2 meses. Apesar de amar a acupuntura, tive de parar para não perder o emprego, pois sempre chegava atrasada no trabalho depois das sessões. Missão abandonada pela manutenção da minha sobrevivência independente.

Ironicamente, comecei um projeto que não coloquei no blog, porque tinha quase certeza que não iria até o fim: ler o livro de Direito Constitucional do Pedro Lenza em um mês. De cabo a rabo, aproximadamente 1.300 páginas de texto técnico, sem direito a interrupção para leitura de outra matéria. Por incrível que pareça: missão cumprida.

Não sei qual o resultado prático disso, já que os especialistas em concurso recomendam o estudo de várias matérias ao mesmo tempo, o que importa é que finalmente cumpri uma missão.

Talvez sem sentido, mas cumpri.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Parando de Fumar. Parte 1


Dia de consulta. Passei o mês esperando ansiosamente este dia, porque, finalmente, começaria a missão mais difícil da minha vida até agora: parar de fumar.

Munida de chapas e exames em punho, fui em frente, e com atraso de uma hora e meia, lá estava eu diante da Dra. Junia para marcar o dia D. 

Como era de se esperar, enquanto a médica repassava os passos do tratamento, alguns possíveis efeitos colaterais do remédio e a possibilidade da recaída, adivinhem: comecei a chorar como um bebê, como um bebê fumante sem cigarro, para deleite da médica, que achou graça no meu desespero.

A verdade é que nem eu ligo mais para o meu choro, porque inconscientemente coloco uma forte carga emotiva em tudo o que faço.

Pois bem, ainda meio chorosa, no taxi a caminho de casa, percebi o porquê do choro: estou prestes a fazer a transição final e fatal, com data marcada para o dia 15/05/2012.

Desde que me conheço por gente adulta, o cigarro foi fator determinante, inclusive, para formação das minhas relações fora do ambiente rígido do trabalho.

Muitos amigos foram feitos nas rodinhas dos que se juntavam no cantinho para fumar um cigarro escondido, enquanto adolescente, ou para não incomodar a maioria não fumante, depois de adulta.

Com esses, mantive amizades mais longas, talvez por sermos todos falíveis e tolerantes com as falhas alheias, ou por participarmos de uma minoria, hoje marginalizada.

Essa parte de mim vai morrer? Finalmente serei a pessoa séria que aparento?

Justamente no salão de espera da clínica, li numa revista velha uma frase do Nando Reis: “A vida ordinária cansa, as vezes preciso fugir para Saturno”.

Apesar de ridicularizado pelo jornalista, Nando tem razão, a vida ordinária, com nossos compromissos e obrigação de ser, ou pelo menos, parecer ser integrante de uma sociedade que odeia vício, que venera a beleza, o sucesso, o cheiro de perfume importado, cansa.

E na contramão das aparências eu vinha, fumando.

O fato me dizerem que não pareço uma pessoa fumante como uma espécie de elogio, indica que mantenho bem essa aparência. 

Está na hora de deixar de ser apenas uma aparência. Se escolhi viver num mundo ordinário, tenho que me entregar de corpo e alma a essa ordem.